
A PRÁTICA BÍBLICO-PURITANA DO AUTOEXAME
Christopher Vicente*
“Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos”
(2 Coríntios 13.5).
INTRODUÇÃO
A prática do autoexame é de grande importância na caminhada cristã. Assim como seria insano um piloto de avião, antes de levantar voo, não se certificar de que foi feita a revisão de todas as partes da aeronave, assim também, insensato é o cristão que trilha a caminhada cristã sem a contínua prática do autoexame. O autoexame é, especificamente, requerido antes da participação no sacramento da Ceia do Senhor (1 Co 11.28). Mas, ele também tem um aspecto de dever constante na vida do crente. É desse caráter contínuo que o presente estudo irá tratar.
O autoexame é bíblico e muito valorizado no cristianismo reformado experimental, a saber, no puritanismo. “Os puritanos levavam a sério o pecado e o autoexame”.[1] Era uma prática feita com muito mais diligência do que fazemos hoje.[2] Eles “cultivavam a humildade e autossuspeita como atitudes constantes, examinando-se regularmente, em busca de eventuais pontos ocultos e males internos furtivos”.[3] No autoexame, tendo a Escritura como espelho, eles descobriram uma contínua disciplina espiritual que os auxiliava na luta contra o pecado. O puritano Edmund Calamy “advertiu que as consequências de se omitir da meditação são sérias. Conduz ao endurecimento do coração”.[4]
O autoexame é, como mencionado, uma autossuspeita; é uma atitude de humildade do coração do crente que, suspeitando de si mesmo, inquire sua própria consciência acerca de suas motivações, desejos, ações e reações. O autoexame é um ato reflexivo.[5] É, no poder do Espírito, tendo a Palavra como lâmpada em uma mão e como espada em outra, perseguir o pecado em cada esconderijo escuro e sombrio do coração. Uma expressão bíblica comumente utilizada para o autoexame é o “sondar o coração”. Nas palavras de Charnock:
Autoexame é uma pesquisa exata e completa em auto de um homem, uma consideração minuciosa sobre minha posição diante de Deus. A Palavra é a regra, uma lente pela qual vemos a Vontade de Deus; e a consciência é o examinador, isto é, a lente pela qual vemos nossas vidas e os movimentos de nossos corações, e que, com a ajuda da palavra, tanto disseca e quanto abre a alma para si.[6]
Este estudo, então, abordará seis tópicos sobre o autoexame: (1) sua existência e possibilidade; (2) sua necessidade, importância e obstáculos; (3) sua ordenança e seu fundamento; (4) os meios de executá-lo; (5) seu propósito; (6) exortações finais. Sua abordagem será composta por uma verificação escriturística em contínua consideração da intepretação puritana desta doutrina.
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AUTOEXAME: SUA EXISTÊNCIA E POSSIBILIDE
“O autoexame existe? É realmente possível fazê-lo? Porventura não é o meu coração enganoso, como posso, então, examiná-lo?” – são perguntas que podem ser levantadas. No entanto, a Escritura mostra a existência e a possibilidade do autoexame. Isso pode ser visto de duas formas: primeiro, em textos bíblicos, nos quais, encontrarmos o crente inquirindo a sua própria alma e consciência acerca de seu estado.
Por exemplo, Davi, no Salmo 42. 5, 11 e 43.5. Ele continuamente pergunta a sua própria alma: “Por que estás abatida, ó minha alma, e [por que] te perturbas em mim?” (ACF). Ou, no Salmo 13.2: “Até quando consultarei com a minha alma, [tendo] tristeza no meu coração cada dia?”.
A segunda forma encontra-se na própria existência da consciência. Na Escritura, a consciência é tida como uma testemunha, ao lado do Espírito Santo (cf. Jo 8.9, Rm 2.15, 9.1; 2 Co 1.12). Ela também testemunha quando é inquirida e sondada a respeito de alguma coisa. Portanto, o autoexame tanto existe quanto é possível. Sua existência e possibilidade é vista em prática na Escritura Sagrada.
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AUTOEXAME: SUA NECESSIDADE, IMPORTÂNCIA E OBSTÁCULOS
O autoexame é necessário, importante e indispensável para uma vida espiritualmente saudável e frutífera. A mesma razão que explica a necessidade e importância também explica (ou explicita) o grande obstáculo ao autoexame: a natureza pecaminosa, corrompida e enganosa.
O pecado ainda presente nos crentes torna o autoexame uma prática necessária. Tão logo o pecado deixar de existir, tão logo também o autoexame será desnecessário. Porque o pecado e a sua corrupção ainda atuam no crente, o autoexame é necessário para a percepção dessa atuação, sendo o primeiro passo para a anulação dela.
A Escritura diz que o coração é enganoso – por causa do pecado – conforme Jeremias 17.9. O pecado, conforme diz Paulo, aproveitou-se do mandamento e o enganou (cf. Rm 7.11). A Escritura diz que o homem acha que seus caminhos são sempre justos – isso é engano, cf. Pv 16.2. “Não deem crédito aos seus corações tão fácil e confiantemente” – alerta Baxter, falando sobre o autoexame.[7]
Portanto, por causa da natureza enganosa do coração, o autoexame é necessário para abortar toda tentativa do pecado de nos enganar e nos conduzir à queda. Também é do coração (o objeto de nosso autoexame), diz o Senhor, que nascem todos os males, cf. Mc 7.15-23. Logo, um homem sábio, sabendo que um rio, em seu nascedouro, é envenenado, cuidará de tratar continuamente a água que sai dela para não contaminar todo o rio. Eis a importância do autoexame. Jonathan Edwards falando sobre essa necessidade diz:
Como o pecado é tão enganoso, e como temos muito pecado no coração, é difícil julgar nossos próprios caminhos com justiça. Por causa disso, deveríamos fazer um autoexame diligente e nos preocupar em descobrir se há em nós algum caminho mau. “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado” (Hb 3.12,13).[8]
Outro ponto que mostra a necessidade do autoexame são os pecados secretos. Quando Davi clama: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; vê se [há] em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23, 24), ele reconhece que há pecados desconhecidos. Essa realidade também evidencia a necessidade do autoexame. Sobre isso Edwards também comenta:
Todos nós deveríamos nos preocupar em saber se vivemos com algum tipo de pecado que até nós mesmos desconhecemos. Se alimentamos algum desejo secreto ou negligenciamos algum dever espiritual, nossos pecados escondidos são tão ofensivos a Deus e o desonram tanto quanto os conhecidos, evidentes e os notórios. Desde que somos tendentes ao pecado, e o nosso coração está cheio deles, devemos tomar um cuidado especial para evitar aqueles que são insolentes, involuntários e cometidos na ignorância.[9]
Contudo, a mesma verdade que fundamenta a necessidade também fundamenta o obstáculo do pecado. Pois, se o pecado é enganoso, desesperadamente enganoso, ainda é possível que tente se esquivar do autoexame. A partir disso, brilha a promessa que emana da ordenança do autoexame, a saber, o auxílio divino bem como, a evidência da necessidade de dependência de Deus.
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AUTOEXAME: SUA ORDENANÇA E SEU FUNDAMENTO
O autoexame não é uma prática religiosa inventada pelos homens. Ele é uma ordenança do Senhor e seu fundamento reside nEle. A ordenança diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo” (1 Co 11.28a; 2 Co 13.5; Gl 6.4-5). A esta ordenança, unem-se as ordens de vigilância (cf. Mt 26.41, 1 Co 16.13), pois a vigilância não possui apenas um caráter externo, mas também um caráter interno (autoexame) – como guardas de uma cidadela que fazem vigília tanto dentro (contra inimigos internos e traidores) quanto fora (exércitos externos). O autoexame “é um dever necessário, pertencente a todos na igreja, e requer muita diligência na realização dele”.[10] O puritano Joseph Alleine alerta: “Ó cristãos, se quiserem evitar o autoengano, então, deem atenção não apenas às suas ações, mas também aos seus motivos”.[11]
A primeira vez que o autoexame foi, na prática, ordenado e sua necessidade exemplificada foi em Gn 3.9-13, 4.6. Deus questiona Adão e Eva quanto ao seu pecado. Depois, após a queda, Deus inquere Caim do pecado que jaz a sua porta e diz que ele deveria dominá-lo. De certa forma, o autoexame por meio da Palavra é o inquérito da consciência (que é a representante de Deus) à nossa alma sobre o estado dela.
O fundamento do autoexame reside no ser de Deus, a saber, em Sua onisciência. Porque Ele é o único que sonda completa e perfeitamente os corações (cf. 1 Cr 28.9, 29.17; Sl 139.1; Jr 17.10; Rm 8.27; 1 Co 2.10; Ap 2.5, 23; 3.3). Se Deus sonda o coração completa e perfeitamente, tendo a correta interpretação do estado deste, então, somente Deus pode capacitar o homem a ter algum bom fruto de seu autoexame.
Isso é importante na tratativa desta doutrina. Isso nos dá consolo. Pois, embora sejamos tentados a achar que “já temos mais informação sobre nós mesmos do que sobre qualquer outra coisa”, logo percebemos que, “em alguns aspectos, é mais difícil obter um conhecimento verdadeiro sobre nós mesmos do que sobre quase qualquer outra coisa”.[12] “O autoexame, sendo um ato reflexivo, é difícil. [...]. É difícil olhar para dentro de si e ver a face de sua própria alma. O olho pode ver tudo, menos a si mesmo”.[13] Portanto, somente em Deus há a possibilidade de o autoexame ter algum sucesso.
Segundo, se Deus conhece tudo o que se passa em nossos corações, deveríamos atentar contra hipocrisia e fazer uso do autoexame para fugir dela. Pois os hipócritas “encenam muito bem aos homens, mas não cuidam de quão maus sejam seus próprios corações [...]. O hipócrita pensa se dar bem e enganar a Deus, mas Deus o desmascarará”.[14] Por isso, “a consideração da onisciência de Deus previne muitos pecados. O olhar dos homens nos refreia de pecar, e não o faria muito mais os olhos de Deus?”.[15]
Portanto, se Deus sonda e conhece o coração de todos, o crente deveria ter maior cuidado em também sondar a si mesmo para que não seja tido, justamente, por hipócrita diante de Deus. Pois uma das notáveis características de um hipócrita é que ele não pratica o autoexame. E, quando praticado, tal exame não o conduz a Cristo e, consequentemente, não o conduz ao abandono dos pecados conhecidos. Pelo contrário, se o pecado é percebido é, então, maquiado – e a encenação continua.
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AUTOEXAME: OS MEIOS DE EXECUTÁ-LO
Entendendo a possibilidade, a necessidade e a importância do autoexame, o próximo passo é investigarmos os meios para executá-lo. Como operarmos o autoexame? Alguns meios são: (a) oração; (b) conhecimento da Palavra; (c) perguntas feitas a si mesmo; (d) meditação (teste das respostas); (e) olhando para Cristo; (f) comunhão dos santos; (g) diários.
a. Oração
A oração é o primeiro passo para um autoexame que agrade a Deus e que traga algum um bom fruto. Por meio da oração, nós nos apresentamos em atitude humilde e dependente dAquele que sonda e conhece o nosso coração mais do que nós mesmos. Ele conhece cada lugar; o mais sombrio, o mais escondido, Ele o conhece.
Portanto, quando nos lançarmos na prática do autoexame devemos rogar como Davi: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; vê se [há] em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23, 24). Ou quando Davi disse: “Examina-me, SENHOR, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração” (Sl 26.2).
Tal oração reconhece: “Senhor, eu sei que há algo mal em mim, sei que devo perseguir esse pecado que, em mim, habita; mas esse mesmo pecado tenta me enganar; e tenho dificuldades em percebê-lo. Por isso, por favor, eu peço, sonda-me – tu que não és engando pelo pecado e que conhece todos os corações”. Essa oração é a de um filho dependente que não consegue entender a si mesmo e clama por ajuda. Fazer isso é reconhecer que Cristo é nosso profeta: “Ele nos ensina a ver dentro de nossos próprios corações”.[16]
b. Conhecimento da Palavra
O segundo meio para executarmos o autoexame é buscarmos um conhecimento da Palavra de Deus, mais especificamente, de Sua Santa Lei – que revela a Santidade de Deus. A Palavra do Senhor diz que “Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos” (Sl 19.8) e que “também por eles [os mandamentos] é admoestado o teu servo; [e] em os guardar [há] grande recompensa”.
É nos contrastando com a Palavra que podemos efetuar o verdadeiro e proveitoso exame de nossos corações. A falta de conhecimento é comparável a cegueira – não enxerga nem o mundo nem a si mesmo corretamente. Edwards comentando a necessidade do conhecimento da Palavra de Deus para um autoexame verdadeiro, diz:
Se você deseja saber se vive em pecado desconhecido, deve familiarizar-se totalmente com o que Deus quer de você. Na Bíblia, Deus nos deu normas perfeitas e verdadeiras pelas quais devemos andar. Ele expressou seus preceitos clara e fartamente, assim, somos capazes de saber – a despeito das nossas trevas e desvantagens espirituais – exatamente o que ele requer de nós. Que revelação da mente divina completa e abundante temos nas Escrituras! Quão clara é em nos instruir sobre como nos comportar! Quão frequentemente seus preceitos são repetidos! E quão explicitamente são revelados, de várias maneiras, a fim de que pudéssemos entendê-los completamente! Mas que proveito há em tudo isso se negligenciamos a revelação de Deus e não nos esforçamos em nos inteirar dela? Que proveito há em se ter princípios piedosos se ainda não os conhecemos? Por que Deus revelaria a sua mente, se não nos importamos em saber o que é ela?[17]
O puritano Nathanael Vincent também comentando essa relação, diz:
Pode ser que haja muitas rãs, serpentes e outras repugnantes e odiosas criaturas em um calabouço, mas enquanto a luz não brilha ali estes não são percebidos. O romper da luz os revela. E assim muitos sentimentos impuros e ofensivos têm sua morada no coração do homem, porém eles não são realmente reconhecidos, nem são os tais motivos de aborrecimento, até que a luz os torne manifestos. O convertido vê seu pecado, sua vergonha. Ele é ciente das pragas de seu próprio coração e da absoluta necessidade de cura.[18]
Confronte-se com a Palavra. Compare-se com ela. “Veja como a Escritura e seu coração concordam. [...]. Desse modo conheceremos a verdadeira situação e estado de nossas almas e veremos que evidências e certificado temos para o céu”.[19] “Compare a sua vida com a Lei de Deus e veja se você se conforma com o padrão divino. Este é o caminho primário que devemos tomar para descobrir nosso próprio caráter”.[20] Além disso,
Quando você ler a Bíblia ou ouvir sermões, reflita e compare os seus caminhos com o que você leu ou ouviu. Pondere que harmonia ou desarmonia existe entre a Palavra e os seus caminhos [...]. Quando ler histórias da Bíblia sobre os pecados e sobre os culpados, faça uma autorreflexão enquanto avança na leitura. Pergunte a si mesmo se é culpado de pecados semelhantes. Quando ler como Deus reprovou o pecado de outros e executou julgamentos por seus pecados, questione se você merece punição semelhante. Quando ler os exemplos de Cristo e dos santos, questione se você vive de maneira contrária aos seus exemplos. Quando ler sobre como Deus louvou e recompensou seu povo pelas suas virtudes e boas obras, pergunte se você merece a mesma bênção. Faça uso da Palavra como um espelho pelo qual você examina cuidadosamente a si mesmo – e seja um praticante da palavra (Tg 1.23-25).[21]
É de suma importância o conhecimento da Palavra para um autoexame verdadeiro. Conheça a Lei. A Palavra de Deus é “que fornece a base apropriada para o autoexame”.[22] Compare suas motivações e ações com ela. Estude, minuciosamente, a excelente e profunda exposição de cada mandamento feita pelo Catecismo Maior de Westminster.[23] Você terá grande proveito nisso.
c. Meditação: perguntas feitas a si mesmo
Como exposto, no início do estudo, o autoexame pode ser percebido nas Escrituras. Ele pode ser praticado, conforme se pretende mostrar nesse tópico, por meio de perguntas à consciência, conforme o fez Davi: “Por que estás abatida, ó minha alma, e [por que] te perturbas em mim?” (Sl 42.5). Assim como a melhor maneira de extrair uma confissão de um culpado é a inquirição, assim também, a melhor maneira de extrair o estado de nossa alma é por meio de perguntas diretivas a ela. Elas visam encontrar a motivação por trás da ação; o sentimento, por trás de uma reação; o objetivo (pecaminoso), por trás dos meios empregados; um ídolo, por trás de um falso culto.
Inquira seu coração com perguntas tais: “Por que eu reagi irascivelmente contra minha esposa/esposo; filho/pai; funcionário/patrão, etc.?”; “O que está dominando o meu coração (ou dominou) no momento em que...”; “Por que eu sinto tanta necessidade de fazer...?”; “Por que eu sempre trato outros com desdenho...?”; “Por que eu sempre quero ser servido e nunca servir?”; “Por que continuamente sou tentado a murmurar?”, “Por que não quero resolver o problema entre mim e meu irmão [em Cristo] (ou cônjuge, ou noivo, etc)?”; “Por que fiquei chateado com tal situação?”; etc. Pergunte a si mesmo como um médico pergunta a um paciente procurando, a partir dos sintomas, a verdadeira doença.[24] Thomas Watson disse: “Frequentes indagações do pensamento fazem Deus e a consciência continuarem amigos”.[25]
Procure as respostas a estas perguntas procurando o réu – e que esse réu seja você. O intuito destas perguntas não é você encontrar culpados fora de você, mas encontrar o culpado dentro de você – e nominá-lo: ira, egoísmo, descontentamento, cobiça, desejo de agradar a outro, desejo de louvor próprio, orgulho, etc. “Os crentes devem criticar a si mesmos em vez de outros cristãos. Os crentes que primeiro criticam a si mesmos têm sempre menos desejo de pensar mal dos outros”.[26] E mais, “a alma humilhada não fica se defendendo e atenuando seus pecados. [...] Mas ela avalia a si mesma do mesmo modo que outros possam justamente julgá-la”.[27] Tome para si as resoluções[28] de Jonathan Edwards:
Resolução 48. Resolvi, constantemente e através da mais acutilante beleza de caráter, empreender num escrutínio e exame minucioso e muito severo, para constatar e olhar qual o estado real de toda a minha alma, verificando por mim mesmo se realmente mantenho um interesse genuíno e real por Cristo ou não; e que, quando eu morrer não tenha nada de que me arrepender a respeito de negligências deste tipo. 26 de maio de 1723. Resolução 60. Resolvi que, sempre que meus próprios sentimentos comecem a comparecer minimamente desordenados, sempre que me tornar consciente da mais ligeira inquietude interior, ou a mínima irregularidade exterior, me submeterei de pronto à mais estrita e minuciosa examinação e avaliação pessoal. 4 e 13 de julho de 1723.[29]
Exercitar-se nessas perguntas lhe possibilitará cumprir o que Jesus orienta em Mateus 7.3-5. É esforçar-se, em obediência a Cristo, por “lembrar-se de onde caiu” (Ap 2.5). Um coração que não é constantemente agitado pelo autoexame será como uma água parada em um recipiente: logo, logo, cumulará o lodo do pecado e as larvas da indiferença; sua água estará tão suja que não servirá nem para os cachorros a beberem. Um coração que não suspeita de si mesmo e não se questiona de suas motivações será como um vidro que, outrora translúcido, tornou-se opaco e sem brilho por causa da poeira que foi sendo acumulada sem a devida atenção de limpeza. Não permita que isso aconteça em seu coração. Questione-o! Suspeite-o! Julgue-o com o martelo da Palavra antes que sejas julgado culpado por Deus.
Após fazer as perguntas, teste as respostas. Considere o engano do seu coração e o seu ardil. Ele pode perceber que está sendo questionado e sua consciência pode estar prestes a entregá-lo. Então, ele rapidamente se maquia e disfarça para falsificar as respostas. Assim como um juiz que olha diversas vezes um processo sobre sua mesa e as provas nele contidas, que você olhe diversas vezes as provas obtidas por sua consciência (o advogado de acusação), resultantes das perguntas feitas ao seu coração (o réu). Sobre isso, J. I. Packer diz:
A consciência de um homem ímpio pode ficar tão calejada que raramente reage; mas a consciência saudável de um crente (diziam os puritanos) age continuamente, ouvindo a voz de Deus em Sua Palavra, procurando discernir sua vontade em tudo, mostrando-se ativa na autovigilância e no autojulgamento. O crente saudável reconhece sua fragilidade, sempre suspeita e desconfia de si mesmo, a fim de que o pecado e Satanás não o peguem desprevenido. Assim, ele se examina regularmente diante de Deus, sondando seus atos e motivos e condenando-se impiedosamente quando encontra em si mesmo alguma deficiência ou desonestidade moral.[30]
Crente, não negligencie o autoexame. Isso pode lhe custar muito caro.
d. Comunhão dos santos
A comunhão dos santos é necessária para o autoexame. Pode parecer um contrassenso, visto que este trabalho piedoso é um ato reflexivo (em si mesmo, não em outros ou feito por outros). Entretanto, é no ambiente da comunhão dos santos que surgem ocasiões de autoexame. Dentre diversas coisas que podem ser destacadas, encontra-se a contribuição dos santos em fornecer material para seu autoexame. Isso é bem explicado por Edwards, primeiramente, na consideração do que os outros podem dizer sobre você.
Embora as pessoas estejam cegas quanto às suas próprias faltas, facilmente descobrem os erros dos outros – e consideram-se aptas o suficiente para falar deles. Algumas vezes, as pessoas vivem de maneiras que absolutamente não são adequadas, porém estão cegas para si mesmas. Não veem seus próprios fracassos, embora os erros dos outros lhes sejam perfeitamente claros e evidentes. Elas mesmas não veem suas falhas; quanto às dos outros, não podem fechar os olhos ou evitar ver em que falharam.[31]
Certamente, é doloroso recebermos algum tipo de repreensão ou acusação de algum pecado. Contudo, considerar esse aspecto é de grande importância. Ainda que o indivíduo o faça com motivações pecaminosas – você tira o bem do pecado dele com a autorreflexão. Ainda que o indivíduo esteja enganado – você tira o bem sendo alertado de um pecado a evitar.
Ainda sobre isso, Lewis Bayly orienta: “sempre considere bom amigo aquele que lhe diz em segredo e com franqueza os defeitos e falhas que vê em você”.[32] Ele continua: “A repreensão, justa ou injusta, venha da boca de um amigo ou de um inimigo, nunca faz dano ao homem prudente. Sim, porque, se for verdadeira, você recebe um aviso para corrigir-se; se for falsa, você tem uma advertência sobre o que evitar”.[33]
Em segundo lugar, considere também os erros dos outros para avaliar se você mesmo não os está cometendo. Aqui, eu reproduzo a precisa fala de Edwards:
Quando vir os erros dos outros, verifique se você tem essas mesmas deficiências. Muitos estão prontos para falar dos erros dos outros, apesar de terem as mesmas falhas. Nada é mais comum para orgulhosos do que acusar o orgulho de alguém. Semelhantemente, é comum para o desonesto reclamar de ter sido enganado por outra pessoa. As características ruins e os maus hábitos dos outros parecem muito mais odiosos nos outros do que em nós mesmos. Facilmente podemos ver quão desprezível é este ou aquele pecado em outra pessoa. Vemos muito prontamente nos outros como o orgulho é detestável, ou quão má a malícia pode ser, ou quão pernicioso é o erro dos outros. Mas, embora vejamos facilmente muitas imperfeições nos outros, quando olhamos para nós mesmos essas coisas ficam obscurecidas por um espelho de ilusão. Entretanto, quando você vê o erro dos outros, quando percebe quão impróprios são os atos de alguém, que atitudes rudes eles mostram, ou quão inadequado seu comportamento é, quando ouve outros falarem sobre isso, ou quando vê erros no tratamento deles em relação a você – reflita. Avalie se não há algum erro semelhante na sua conduta ou atitude. Perceba que essas coisas são tão inconvenientes e ofensivas em você como são nos outros. O orgulho, o espírito arrogante, e os maneirismos são tão odiosos em você como são no seu vizinho. Seu espírito malicioso e vingativo em relação ao seu vizinho é tão desprezível quanto o dele em relação a você. É exatamente tão pecaminoso o seu erro ou o dolo do seu vizinho quanto isso é para ele em relação a você. É tão indelicado e destrutivo você falar dos outros pelas costas quanto os outros fazerem o mesmo em relação a você.[34]
Além destes dois aspectos (negativos) destacados por Edwards, podem ser consideradas também as situações de convívio. Elas geram ocasiões, ações e reações que devem ser alvos de autoexame. As situações de convívio são o que Salomão diz: “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro” (Pv 27.17, NVI).
e. Diários Espirituais
Os diários espirituais, nos quais se registram orações, confissões e reflexões, são meios muito práticos no auxílio do autoexame. Os puritanos mantinham registros pessoais ou diários espirituais como forma promover a piedade.[35] “Eles usavam seus diários como confessionários pessoais para ajudá-los a expressar diante de Deus e de si mesmos pensamentos que de outra forma teriam enterrado”. Eles realmente “creditavam que escrever diários poderia ajudá-los na meditação, na oração, na recordação das obras e da fidelidade do Senhor, do monitoramento de seus próprios objetivos e prioridades e na manutenção de outras disciplinas espirituais”.[36]
f. Olhando para Cristo
O autoexame tem por referência a Palavra de Deus (Lei Moral). Mas, ao se comparar com a Lei, o crente – justa e devidamente – é assolado pelo peso dos seus pecados que são ressaltados por ela. Por isso, o autoexame deve ser praticado sempre olhando para Cristo, em quem o crente encontra perdão, força para obedecer e consolo. “Para cada vez que você olha a si mesmo, dê dez olhadas a Cristo, pois só Cristo pode ser o objeto da fé verdadeira”.[37]
Se você contempla a si mesmo sem Cristo (e o Espírito Consolador e Perscrutador), isso é condenação certa. Contudo, “se você contempla a si mesmo em Cristo, por meio da Palavra e do Espírito, isso poderá resultar em muita coisa boa, pois o autoexame pode nos assegurar de que nossa salvação está baseada no fundamento certo” – Cristo.[38]
Este ponto é colocado por último, mas não por menor importância. Pelo contrário, ele é o que fundamenta todos os demais os meios. É posto por último a fim de que se entenda que, no final de tudo, olhar para Cristo é o meio efetivo de autoexame. É olhando para Ele que haverá o senso de dependência (oração), o conhecimento (a Palavra) e a realidade da comunhão dos santos. Portanto, faça o autoexame olhando para Cristo, não somente como padrão moral, mas como Aquele que, como Profeta, revela o que está no seu coração; e como Rei, luta e habilita-o a lutar contra os seus pecados percebidos.
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AUTOEXAME: SEU PROPÓSITO
O autoexame possui um propósito piedoso, a saber: visualizar “nossos pecados para que sejam mortificados; nossas carências, para que sejam supridas; nossas dignidades, para que sejam consolidadas”.[39] Pelo autoexame sincero, constante e diligente, o crente evidencia que deseja identificar o inimigo para que se possa lutar contra ele.
A finalidade do autoexame é chorar; chorar pelos pecados para que Cristo o console. É buscar a Cristo mais ardentemente. Diante de suas corrupções, o crente desespera-se de si mesmo e busca refúgio e força somente em Cristo. Em Cristo, há tudo e todos os tesouros da salvação, da piedade e da vida santa. E tudo isso é para que Deus seja glorificado na vida santa de Seu povo.
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AUTOEXAME: EXORTAÇÕES FINAIS
Portanto, seguem-se algumas exortações finais (encorajamentos) para o autoexame:
a. “Tenha o cuidado de suprimir todo pecado no primeiro movimento. [....]. Cuide que o pecado seja um estranho para o seu coração, não um orador recebido familiarmente”.[40]
b. “Examine-se a si mesmo para o seu próprio crescimento na graça. Reflita sobre o passado e pergunte: ‘O que tenho feito?’. Olhe para o futuro, indagando: ‘O que estou determinado a fazer pela graça de Deus?’”. Contudo, “não faça essas perguntas com legalismo, mas como resultado de um entusiasmo e oportunidade santos de crescer na graça operada pela Espírito”.[41]
c. Em todas as coisas, antes de praticá-las, sonde a si mesmo e considere o que você objetiva para que o pecado, como um parasita, não infecte ações santas com motivações pecaminosas.
d. “Empenhe-se, diariamente, em enxergar cada vez mais a sua miséria através da sua incredulidade, do seu amor-próprio e das suas voluntárias infrações das leis de Deus”.[42]
e. Não pare no autoexame e no lamento, mas se aplique à mortificação do pecado percebido. “Ganhamos segurança, não tanto pelo autoexame, como pela ação”. Asseguramo-nos “de nosso chamado e eleição, primeiramente não pelo autoexame, mas adicionando à fé excelência moral, conhecimento, autocontrole, perseverança, piedade, bondade fraterna e amor” (2 Pe 1:5-7).[43]
f. Acima de tudo, faça o autoexame não confiando em sua justiça (conseguindo executá-lo com regularidade), e nem confiando e se vã gloriando do cumprimento desse dever, mas, conforme Thomas Watson orienta: “use o dever, porém não o idolatre. Devemos usar os deveres que nos preparam para Cristo, mas não façamos de nossos deveres um Cristo”.[44]
Que o Senhor ouça a oração do seu povo: “Sonda-me, ó meu Sumo-Sacerdote, e vê se há em mim algum caminho mal. E eu sei que há, por isso, mostra-me meus pecados, ó meu Profeta; e destrói-os, pois são meus e teus inimigos, ó meu Rei”. E nos fortaleça para a Sua glória.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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______. A Fé Cristã: estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
______. Como Ler a Bíblia (Locais do Kindle 346-358). KDP. Edição do Kindle.
* Bacharel em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Bacharelando em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN). Pós-graduado em Teologia Pastoral pelo SPN. Especializando-se em Pregação Expositiva pela Associação Bíblica Pregue a Palavra. Presbítero em disponibilidade na Igreja Presbiteriana do Brasil.
[1] BEEKE, Joel. JONES, Mark. Teologia Puritana: doutrina para a vida. São Paulo: Vida Nova, 2016. p. 834.
[2] Ibid., p. 1207.
[3] PACKER, J. I. Entre os Gigantes de Deus: uma visão puritana da vida cristã. São Paulo: Fiel, 2016. p. 30-31.
[4] BEEKE, Joel. Espiritualidade Reformada. São Paulo: Fiel, 2014. p. 141.
[5] WATSON, Thomas. A Ceia do Senhor. Recife: Os Puritanos, 2015. p. 48.
[6] CHARNOCK, Stephen. A discourse of self-examination. Disponível em: < https://www.the-highway.com/articleJuly00.html >. Acesso 07 out. 2017.
[7] BAXTER, Richard. Quebrantamento: espírito de humilhação. Ananindeua: Knox Publicações, 2008. p. 12.
[8] EDWARDS, Jonathan. Sondando sua Consciência. Disponível em: < http://www.monergismo.com/textos/sermoes/sondando_consciencia_edwards.htm >. Acesso 04 out. 2017.
[9] Ibid.
[10] CHARNOCK, Stephen. Op. Cit.
[11] ALLEINE, Joseph. Um guia seguro para o céu. São Paulo: PES, 2014. p. 86.
[12] EDWARDS, Jonathan. Op. Cit.
[13] WATSON, Thomas. Op. Cit., p. 48.
[14] WATSON, Thomas. A Fé Cristã: estudos baseados no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 77-78.
[15] Ibid., p. 78.
[16] WATSON, Thomas. Op. Cit., p. 201.
[17] EDWARDS, Jonathan. Op. Cit.
[18] VINCENT, Nathaniel. A conversão de um pecador. Os puritanos e a conversão. São Paulo: PES, 1993. p. 88.
[19] WATSON, Thomas. Como Ler a Bíblia (Locais do Kindle 346-358). KDP. Edição do Kindle.
[20] EDWARDS, Jonathan. Op. Cit.
[21] Ibid.
[22] BEEKE, Joel. JONES, Mark. Op. Cit., p. 1296.
[23] Perguntas 91 a 153.
[24] Exemplo de autossuspeita: “Leitor, não se esqueça de aplicar estas coisas a você mesmo. Acaso você fica ofendido quando alguém pensa que é um cristão melhor do que qualquer outro? Pensa que essa pessoa é orgulhosa e que você é mais humilde que ela? Então, tenha cuidado, caso que se torne orgulhoso de sua humildade! Examine a si mesmo. Se concluir, "Parece-me que ninguém é tão pecador quanto eu", não fique satisfeito com isso. Você pensa ser melhor do que os outros por admitir que é tão pecador? Tem uma alta opinião dessa sua humildade? Se você diz: "Não, eu não tenho uma opinião elevada de minha humildade, penso que sou tão orgulhoso quanto o diabo'", então examine-se de novo. Porventura você está orgulhoso do fato que não tem uma opinião elevada sobre sua humildade? Você pode ter orgulho de admitir quão orgulhoso você é!” (EDWARDS, Jonathan. A genuína experiência espiritual. São Paulo: PES, 1993. p. 71).
[25] WATSON, Thomas. Op. Cit., p. 307.
[26] BROOKS, Thomas. Resista ao Diabo: um estudo da batalha espiritual dos crentes contra Satanás. São Paulo: PES, 2014. p. 92.
[27] BAXTER, Richard. Op. Cit., p. 19.
[28] Não que as resoluções tenham poder em si mesmas ou tenham por fundamento o braço forte daquele que as adota. Contudo, são elas de grande importância como diretrizes, aplicando o ensino bíblico ao dia a dia, conforme no exemplifica as Escrituras (cf. Jó 31.1; Sl 17.3, 119.30; Ec 7.23).
[29] EDWARDS, Jonathan. Resoluções de Jonathan Edwards (1722-1723). Disponível em: < http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/70resolucoes_edwards.htm >. Acesos em 04 out. 2017.
[30] PACKER, J. I. Op. Cit., p. 188.
[31] EDWARDS, Jonathan. Op. Cit.
[32] BAYLY, Lewis. A prática da piedade. São Paulo: PES, 2010. p. 189.
[33] Ibid., p. 190.
[34] EDWARDS, Jonathan. Op. Cit.
[35] BEEKE, Joel. JONES, Mark. Op. Cit., p. 1199-1200. Incontáveis são os puritanos, cujos biógrafos, destacam a prática dos diários espirituais. De fato, essa era uma marca da piedade privada dos puritanos.
[36] Ibid., p. 1027-1208.
[37] Ibid., p. 1296.
[38] Ibid., p. 1296.
[39] WATSON, Thomas. Op. Cit., p. 49.
[40] BAYLY, Lewis. Op. Cit., p. 181.
[41] BEEKE, Joel. JONES, Mark. Op. Cit., p. 1271.
[42] BAYLY, Lewis. Op. Cit., p. 182.
[43] EDWARDS, Jonathan. Op. Cit., p. 46.
[44] WATSON, Thomas. Op. Cit., p. 63.